Como a palavra se fez morada em mim

Quando eu era mais nova, a palavra se fazia em mim, mas eu não fazia na palavra, pelo menos não ainda de coração e alma. Ainda não estava entregue nela porque eu sentia que faltava algo, mas não sabia o que. Era tudo tão superficial. Ficava dentro da palavra surfando bem de leve em ondas pequenas sem saber quais os significados de seus sons e qual o meu propósito com elas, na verdade eu não tinha uma definição certa de quem eu era perante a Arte de Escrever. Ainda estava me descobrindo nesse meio.

Pois bem, o tempo passou, fui andando na vida, tentando me encontrar, escolhendo a faculdade certa para mim, e nisso tudo, me casei, tive uma filha e a escrita ficou meio que deixada de lado, esquecida.

Quando veio a pandemia e todos fomos forçados praticamente a passar mais tempo em casa, decidi fazer algo diferente, resolvi resgatar a escrita que tinha ficado adormecida durante muito tempo em mim, e foi um resgate em tanto, pois voltei com outra visão da palavra, mais amadurecida e mais concisa nas ideias. Foi transformador, desafiador e libertador ao mesmo tempo.

Então, decidi inserir a escrita todos os dias na minha rotina, nem que fosse por pouco tempo, mas eu tinha que escrever. Como sempre tive uma relação maior com a poesia, decidi começar com o romance, e depois nadando por outros gêneros, posso afirmar que foi maravilhoso sentir todo esse processo em mim. Dessa maneira fui me desafiando, me conhecendo dentro dessa Arte e a cada novo encontro com ela me permitia enxergar detalhes que não foram vistos antes. Fiquei mais observadora, aguçando meus sentidos para ir além nesse processo criativo. E foi algo surpreendente.

Assim, encontrei meu lugar dentro da escrita, abracei e fui abraçada por ela por completo dando sentido e razão para o que estava fazendo. Acho que uma definição para o que estava sentindo e que continuo a sentir seria de uma felicidade inexplicável. Comecei a me ver diferente: uma escritora cheia e composta com tantas ideias, frases, títulos, rimas para explorar e muita leitura como complemento. Porque ser escritor é isso: é se questionar o tempo todo, é tentar buscar respostas para aquilo que ficou incompreendido, é ousar. Enfim, o escritor está sempre em formação, ele nunca é completo. Vive em constante aprendizado, sempre querendo aumentar seu vocabulário. E é assim que eu me sinto a cada instante.

Com isso fui percebendo com o passar do tempo que isso foi o resultado de uma bagagem poderosa em minha vida, e só o começo de onde a escrita poderia e pode me levar, trazendo sempre um enriquecimento vasto para mim. Dessa maneira, segui respirando ideias e transpirando palavras 100 por cento em todas as minhas ações dos meus dias.

( Sara Lacerda)

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